Sobre a Mira, ou tratado sobre o nariz roubado.
Um dia, apareceu uma menina por aí (por aí mesmo porque ela não tem lugar fixo). E de tantos por aí ela fez pousada na minha vida. Essa menina, a menina do olhar que coleciona aviões, não sabe como se mostrar menos ela e assim vai indo, por aí (como sempre) destruindo todas as possibilidades de se tentar ser uma pessoa qualquer.
Essa menina se chama Mira. Ela se chama benhê, ela se chama espelho e também reflexo, ela se chama vida, susto e suspiro. Ela se chama Mira e Mira é a única forma de chamar essa menina, que de olhar tão astuta, achou uma girafa na janela e desmoronou o sentido de manhã.
Às vezes me pego a pensar, o que seria minha vida sem essa menina (a das bolinhas feitas em casa)? Acho que seria normal. Seria normal sim... Mas ser normal, depois de passar um instante em solidão com Mira, passou a ser insuportável. A vida não é normal, porque a menina não é normal e ela faz o normal da vida das pessoas mancar diante da sua imensidão de coisas esquisitas, coisas que povoam seu mundo laranja-rosa-verde-azul-amarelo-vermelho-roxo.
O mundo dela não é colorido, ele é laranja-rosa-verde-azul-
amarelo-vermelho-roxo, porque Mira não é colorida, Mira é todas as cores do mundo numa menina só.